segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A REALIDADE DOS SONHOS


O sono liberta, em parte, a alma do corpo. Quando dormimos, estamos momentaneamente no estado em que o homem se encontra após a morte.
Os Espíritos que logo se desligam da matéria, quando desencarnam, têm um sono consciente.
Durante o sono, reúnem-se à sociedade de outros seres superiores e com eles viajam, conversam e se instruem; trabalham até mesmo em obras que depois encontram prontas, quando, pelo desencarne, retornam ao mundo espiritual.
Isso deve nos ensinar uma vez mais a não temer a morte, uma vez que praticamente morremos todos os dias.
Isso para os Espíritos elevados; mas para o grande número de homens que, ao desencarnar, devem permanecer longas horas nessa perturbação, nessa incerteza da qual já vos falaram, esses vão, enquanto dormem, a mundos inferiores à Terra, onde antigas afeições os evocam, ou vão procurar prazeres talvez ainda mais baixos que os que têm aí; vão se envolver com doutrinas ainda mais desprezíveis, ordinárias e nocivas que as que professam em vosso meio.
O que gera a simpatia na Terra não é outra coisa senão o fato de os homens, ao despertar, se sentirem ligados pelo coração àqueles com quem acabaram de passar de oito a nove horas de prazer.
Isso também explica as antipatias invencíveis que sentimos intimamente, porque sabemos que essas pessoas com quem antipatizamos têm uma consciência diferente da nossa e as conhecemos sem nunca tê-las visto com os olhos.
Explica ainda a nossa indiferença, pois não desejamos fazer novos amigos quando sabemos que há outras pessoas que nos amam e nos querem bem. Em uma palavra, o sono influi mais na vossa vida do que pensais.
Durante o sono, os Espíritos encarnados estão sempre se relacionando com o mundo dos Espíritos e é isso que faz com os Espíritos Superiores consintam, sem muita repulsa, em encarnar entre vós.
Deus quis que em contato com o vício eles pudessem se renovar na fonte do bem, para não mais falharem, eles, que vêm instruir os outros.
O sono é a porta que Deus nos abriu para entrarmos em contato com nossos amigos já desencarnados; é o recreio após o trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final que deve devolvêr-nos a nosso verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono; mas notemos que nem sempre sonhamos, porque nem sempre nos lembramos do que vimos.
É que a alma não está em pleno desdobramento. Muitas vezes, apenas fica a lembrança da perturbação que acompanha a partida ou a volta, à qual se acrescenta a do que fizemos ou do quenos preocupa no estado de vigília; sem isso, como explicarmos esses sonhos absurdos que temos tanto os mais sábios quanto os mais simples? Os maus Espíritos se servem também dos sonhos para atormentar as almas fracas e medrosas.
Portanto, os sonhos são o produto da emancipação da alma, que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de convivência.
Daí uma espécie de clarividência indefinida, que se estende aos lugares mais afastados ou jamais vistos e algumas vezes até a outros mundos; daí ainda a lembrança que traz à memória acontecimentos realizados na existência atual ou em existências anteriores; a estranheza das imagens do que se passa ou do que se passou em mundos desconhecidos, misturadas com coisas do mundo atual, formam esses conjuntos estranhos e confusos que parecem não ter sentido nem ligação entre si.
A incoerência dos sonhos se explica ainda por lacunas que a lembrança incompleta do que nos apareceu em sonho produz.
Isso seria como numa narração a qual se tenham truncado frases ao acaso, ou parte de frases; os fragmentos restantes reunidos perderiam toda a significação. 
(Trecho de: O Livro dos Espíritos)